
Dia 23 de julho de 1949 em Paris, França, aconteceu o Congresso Nacional Espírita da França, na sede da União Espírita Francesa, com o tema central “A inteligência dos animais”, sendo Presidente o sr. Henri Regnault.
Observemos que já naquela época este assunto era objeto de profundas reflexões, haja vista ser o tema principal deste encontro de estudiosos da essência espiritual.
O que nos diz sobre isso O Livro dos Espíritos? Na parte segunda capítulo 11, Os Três Reinos, o Espírito da Verdade abordará com Kardec este tema.
Na questão 585 temos: Sob o ponto de vista material, há apenas seres orgânicos e inorgânicos; sob o ponto de vista moral há, evidentemente, quatro graus – minerais, vegetais, animais e os homens.
Nesta mesma questão Kardec explica:
Esses quatro graus têm, de fato, características nítidas, ainda que seus limites pareçam se confundir. A matéria inerte, que constitui o reino mineral, tem somente uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade.
Os animais, compostos de matéria inerte e dotados de vitalidade, têm, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, com a consciência de sua existência e de sua individualidade.
O homem, tendo tudo o que há nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial, sem limites fixados, que lhe dá a consciência de seu futuro, a percepção das coisas extra materiais e o conhecimento de Deus.
Mas, quando pensamos nos animais sempre imaginamos o nosso bichinho de estimação, com o qual nos relacionamos de forma muito amorosa e, via de regra, somos correspondidos, de maneira que ficamos a pensar se não há mais do que instinto nestes seres. Como Kardec explicaria isso?

Na questão 592 deste mesmo capítulo teremos a seguinte explicação:
Q 592 – Se compararmos o homem e os animais sob o ponto de vista da inteligência, a linha de demarcação parece difícil de estabelecer, porque alguns animais têm, sob esse aspecto, uma superioridade notória sobre alguns homens. Essa linha pode ser estabelecida de uma maneira precisa?
– Sobre esse ponto vossos filósofos não estão de acordo em quase nada: uns querem que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem; todos estão errados.
O homem é um ser à parte que desce muito baixo algumas vezes, ou que pode se elevar bem alto.
Fisicamente o homem é como os animais, e até menos dotado que muitos deles; a natureza deu aos animais tudo o que o homem é obrigado a inventar com sua inteligência para satisfazer suas necessidades e sua conservação.
É verdade que seu corpo se destrói como o dos animais, mas seu Espírito tem uma destinação que somente ele pode compreender, porque apenas o homem é completamente livre.
Pobres homens que vos rebaixais além da brutalidade! Não sabeis vos distinguir? Reconhecei o homem pelo sentimento que ele tem da existência de Deus.
Na questão 593 Kardec amplia a explicação e apresenta argumentos bastante esclarecedores sobre a inteligência dos animais:
(…) Há neles uma espécie de inteligência, cujo exercício é mais exclusivamente concentrado sobre os meios de satisfazerem suas necessidades físicas e proverem à sua conservação.
Entre eles, não há nenhuma criação, nenhum melhoramento; qualquer que seja a arte com que executem seus trabalhos, fazem hoje o que faziam antigamente, nem melhor, nem pior, conforme formas e proporções constantes e invariáveis.
O filhote, isolado da sua espécie, não deixa de construir seu ninho com o mesmo modelo sem ter recebido o ensinamento. Se alguns são suscetíveis de uma certa educação, seu desenvolvimento intelectual, sempre restrito a limites estreitos, é motivado pela ação do homem sobre uma natureza flexível, uma vez que não fazem nenhum progresso próprio.
Mesmo o que alcançam pela ação do homem é um progresso efêmero e puramente individual, já que o animal, entregue a si mesmo, não tarda a retornar aos limites que a Natureza lhe traçou.
Com as explicações acima é possível fazer uma ideia melhor dessa inteligência que pensamos ter os animais. Na verdade precisaríamos encontrar uma palavra diferente para definir duas coisas que são diferentes, quais sejam a inteligência do homem e do animal. Seguindo ainda pelo capítulo 11 da segunda parte do Livro dos Espíritos, Kardec nos fala da “alma” dos animais e de seu livre-arbítrio:
Q 598 A alma dos animais conserva, após a morte, sua individualidade e a consciência de si mesma?
– Sua individualidade, sim, mas não a consciência de seu eu. A vida inteligente continua no estado latente.
Q 599 A alma dos animais tem a escolha de encarnar em um animal em vez de outro?
– Não; ela não tem o livre-arbítrio.

Já estamos conseguindo clarear melhor esse conceito da inteligência animal. A esta altura de nossa reflexão percebemos que os animais não tem a consciência de sua individualidade, sua inteligência está adormecida, latente, e por isso não tem o livre-arbítrio, ou seja, condições de escolher o que fará de sua vida.
Ora, se não tem livre arbítrio, e nem consciência de si mesmo, não pode ter vida moral, mas apenas material, isto é, voltada apenas para a sua conservação. Daí a inteligência apenas “instintiva”.
Aqui chegaremos ao ponto alto dessa reflexão, quando Kardec questiona o Espirito da Verdade sobre a fonte desses dois tipos de inteligência. Vejamos:
Q 606 – De onde os animais tiram o princípio inteligente que constitui a espécie particular de alma, da qual são dotados?
– Do elemento inteligente universal.
Q 606a – A inteligência do homem e a dos animais vêm de um princípio único?
– Sem dúvida. Mas no homem ela recebeu uma elaboração que o eleva acima do animal.
Surpresa! O Espírito da Verdade afirma a Kardec que o principio inteligente humano vem da mesma fonte, de um principio único. Mas, se viemos de um princípio único, um dia passamos pelo reino animal? Nós, da espécie humana, passamos pelo reino animal, ou encarnamos um dia num animal?
Q 607 – Foi dito que a alma do homem, em sua origem, está no estado semelhante ao da infância da vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e ela ensaia para a vida. Onde o Espírito cumpre essa primeira fase?
– Em uma série de existências anteriores ao período que chamais humanidade.
Q 607a – Assim, pode-se considerar que a alma do homem teria sido o princípio inteligente dos seres inferiores da Criação?
– Não dissemos que tudo se encadeia na natureza e tende à unidade?
É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, individualiza-se pouco a pouco e ensaia para a vida, como já dissemos.
É, de algum modo, um trabalho preparatório, como a germinação, em que o princípio inteligente sofre uma transformação e torna-se Espírito.
É então que começa o período da humanização e com ela a consciência de seu futuro, a distinção entre o bem e o mal e a responsabilidade de seus atos. Assim como depois da infância vem a adolescência, depois a juventude e, enfim, a idade adulta. (…)
Com muita clareza e sem rodeios, pelo que acima podemos analisar, temos os elementos para uma profunda reflexão de como devemos nos relacionar com estes seres da criação.
Que cada um e cada uma, aguce o seu senso crítico, e tire as suas conclusões do que acima apresentamos. Quer analisar melhor este assunto? Veja em O Livro dos Espíritos, capítulo 11 da parte terceira; questões 71 e seguintes deste mesmo livro que analisa a “Inteligência e o Instinto”; em A Gênese (Kardec) veja no capítulo 3, o item “o Instinto e a Inteligência”. Finalmente recomendamos o livro A Alma dos Animais, de Celso Martins.

“A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem”. (Leon Denis)
